Uma análise justa do show do Guns N' Roses no Rock in Rio 2017


A verdade tem que ser dita.

Guns N' Roses, a banda de uma geração. Explodia em meados da década de 80, a banda colecionou hits fantásticos e inesquecíveis, além de brigas e muitas polêmicas, fato que acabou separando os integrantes da banda.

Então eles voltaram, mais de duas décadas depois. Nesse meio tempo, Axl Rose seguia com o nome da banda participando de específicos shows e alguns eventos, entre eles, o Rock in Rio, mas praticamente com uma banda diferente a cada ano. 

O grande ponto positivo da banda em seu auge era que todos os integrantes eram importantes, eram um show à parte. Com a separação, só restava Axl Rose. Um retorno, principalmente o retorno de Slash, era desejado ano a ano, notícia a notícia, e, finalmente isso aconteceu no ano passado, 2016. Mas após a confirmação de sua participação no Rock in Rio 2017, expectativas foram criadas, sonhos estavam para serem realizados, mas não foi da forma como muitos esperavam.

Sim, teve pontos negativos, porém, muito, muito mais pontos positivos.

Axl Rose não é mais o mesmo, infelizmente. Acompanho shows da banda no Brasil desde 2001, no Rock in Rio. Apesar da banda não estar "completa" naquele ano, Axl estava muito bem. Foi um show fantástico e fiquei imaginando como seria ainda mais fenomenal se Slash estivesse ali.


Chegamos então à edição de 2017 do Rock in Rio e Guns N' Roses foi a principal atração do penúltimo dia do evento. O show trouxe duas visões: uma pra quem estava no show e outra pra quem viu pela TV. Para analisar com justiça o show, a pessoa tem que ter visto o show de perto e também, assistido pela TV. É o meu caso.

Três horas e vinte e oito minutos de show, que, não foi sentida pelo público presente. Claro que muitos foram embora pela metade do show mas não por causa da banda. Chegar ao Rock in Rio as 14 horas e sair as 5 da manhã não é pra qualquer um. 

A banda veio com um repertório impecável, não faltou NENHUM hit. Esbaldamos, literalmente. Sim, vi o show grudado na grade, bem de perto, pude acompanhar detalhes que sonhei ver, no caso, os solos de Slash.

No show é difícil julgar tecnicamente, pois além da emoção de estar lá, tem muito empurra, muita gritaria, o som dos instrumentos estavam um pouco acima do som do microfone de Axl, mas mesmo assim deu pra ver que o cantor estava sofrendo com algumas músicas. Nossa, a interpretação da música "Coma" foi uma vergonha. A banda já tem instrumentos afinados meio tom abaixo, talvez seria necessário diminuir mais meio tom pra ficar confortável para Axl (e para nós), mas parece que ele preferiu resolver de outra forma: falsetes.


Ele não está mais "soltando" a voz. O falsete é uma técnica usada para cantores atingirem notas mais altas sem esforçar tanto a garganta. Adam Levine, do Maroon 5, faz isso muito bem, dando um exemplo. 

Acredito que esteja com algum problema vocal que não foi informado (eles nunca informam nada). Axl está se esforçando além do normal. O falsete não encaixou bem, sua voz perdeu energia, muitas vezes semi-tonadas, completamente diferente do que acostumamos acompanhar do cantor. 

Isso é notório, não tem discussão. No show não dá pra perceber tanto devido aos fatores que mencionei, apesar de ainda sim pegar certos deslizes. Pela TV fica notório que a voz tem falhado na garganta de Axl Rose. Mas uma coisa importante: um show não se compõe apenas na voz do cantor, que é importante, claro. Um show tem dezenas de outros fatores, e banda esteve IMPECÁVEL em todos eles.

Tem como reclamar de Slash? "Solos longos", como vi gente comentando? Amigo, Slash pode solar na minha frente duas horas direto que irei ficar vidrado em sua arte.

A banda esteve impecável: Slash é um show a parte, um "show man". Ele é o centro das atenções em diversos momentos, ele tem o seu show particular e leva a galera ao delírio. A décadas ele não se apresentava no Brasil (com o Guns, após a volta em 2016), e com essa volta, todos puderam realizar sonhos de acompanhar ao vivo seu trabalho que marcou gerações.

Richard Fortus é o guitarrista base que fez um feijão com arroz maravilhoso. Frank Ferrer destruiu na batera, Melissa Reese ajudou no vocal, sustentando um pouco a voz de Axl. Dizzy Reed sempre competente, e, claro, não poderíamos deixar de falar em Duff McKagan, o baixista que fez história na banda e que volta para continuar o belo trabalho. Eles tocaram "Attitude", meus amigos, a música punk rock comandada por Duff.

O que falar da presença de palco de toda a banda! Assisti o show colado na grade, mas na parte lateral. Sabia que eles iriam ali. Eles ocupam o palco todo, eles correm de um lado para o outro o tempo todo. Axl canta correndo! Slash toca correndo! Isso não foi visto no Rock in Rio, aliás, a maioria dos artistas nem se quer iam nas extremidades do palco. 

Uma energia incrível! Não se pode negar o empenho de todos, principalmente de Axl. Pode não ter aquela qualidade vocal, como disse, mas ele se supera em muitos quesitos. Ele tem 55 anos, meus amigos, corre como nunca, vibra como nunca, não se pode dizer que ele não pode mais comandar a banda por ter, no momento, impotência vocal. 


Ele se uniram e planejaram: "vamos dar tudo de nós". Eles deram, deu pra sentir isso. Tocaram tudo, tudo, tudo. Era um festival, poderiam tocar uma hora e meia ou duas horas, como fez o Aerosmith, mas não! O dia era deles e honraram isso. Por isso mesmo saíram de lá ovacionados, saí de lá muito, muito satisfeito. Quem vê apenas pela TV não tem essa visão, não sente essa emoção.

Portanto, o show foi sensacional. Não foi perfeito, como faziam nas décadas de 80, mas a empolgação e dedicação era a mesma e fico mais uma vez lisonjeado de ter tido a oportunidade de acompanhar eles, de novo, agora com a formação praticamente original, bem de perto, realizando o sonho de uma vida Rock n Roll.

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